sexta-feira, abril 22, 2005
Plástico
Uma chuva fina cai lá fora. Parece uma cortina cobrindo a cidade. Separando o horizonte daquilo que se pode ver. Um lençol branco, quase transparente, agitado pelo vento. Não demora muito para o sol romper a tarde. Rasgando o fino véu. Empurrando a chuva para longe, tão longe que parece desaparecer, evaporar na força do calor.
Ponho um volume de Graciliano Ramos de lado e deixo minha mente se perder em pensamentos e lembranças tal qual o protagonista de Angústia. Do outro lado da parede uma música guardada num pedaço de disco ótico, rompe o silêncio. É “adoração” em conservas, por assim dizer. Não que eu esteja virando um velho rabugento, mas penso na loucura que o mundo atual é. Até mesmo a oração e a adoração espontânea, a Deus é industrializada e posta nos hipermercados, perto de pneus, pilhas, geladeiras, alimentos, roupas intimas e outras coisas mais.
Não quero ressuscitar nenhum um outro aspecto da lei mosaica, que creio eu, se não está morta, mata. Indiscutivelmente não há outro modo de se achegar a Deus, senão por meio de Cristo Jesus. Mas penso na loucura que é esse mundo. Instantes congelados. Presos no tempo. Soltos na vida. Na vida que nos escapa pelos dedos. Na vida que serve de modelo. Modelo que nunca iremos alcançar, pois não é a vida feita para se viver, mas apenas para se buscar. Vida morta.
A moça que cuida da casa põe o instante congelado para reviver, reverberar nas caixas amplificadas. Então se reproduz o passado no presente. Ela põe a música e segue a arrumar as camas desfeitas, os banheiros sujos. Retirando o pó dos móveis e limpando o chão empoeirado, segue cantarolando os versos congelados de “adoração” ao Deus-Vivo. O que foi um momento perto de Deus se torna fundo musical. Música de elevador e trilha sonora de loja de departamento. Acompanhamento para enfrentar o trânsito engarrafado.
Faço parte de uma geração onde até os relacionamentos com o Criador são formatados. Embalados para presente e vendidos como souvenir. As orações protestantes pouco a pouco se transformam nas velhas rezas católicas, mas ninguém percebe. Estão ocupados demais comemorando tantas conquistas. Elaborando novas formas de avançar e manter o rebanho entre as cercas da sutil ditadura. Então a nova vida tem gosto e cheiro de plástico. Borracha queimada.
Os religiosos, cada vez mais preocupados com a abstinência sexual e outras questões morais, não percebem que o seu deus está morto. O ouro fundido – de seus sacrifícios, de suas jóias, amuletos, desejos e medos – nada vê, nem ouve, nem sente. Isso por que dessa vez quem subiu ao monte para falar com Deus não foi outro Moises, mas sim o próprio Cristo, o filho de Deus, o sacrifício vivo, entregue em nosso lugar, para que não fossemos nós o sacrifício, mas nem assim se atentaram...
Não demora muito para a sinceridade de alguns ser transformada em obsessão, disputa por poder, imitação e modelo a ser imposto. Os religiosos congelaram o seu deus em ritos e rituais. O “Jesus” desses, agora é um estilo de vida. Um contemporâneo e salvador estilo de vida. Um símbolo capitalista. Um outro Guevara vendido na porta da Disney.
Olhando desse modo, não fica difícil entender por que tantos, como Nietzsche, Schopenhauer, Buñel..., desacreditavam no deus-carrasco, devorador de prepúcios, do cristianismo católico-protestante ocidental e agora, neopentecostal.
Diga o que quiserem, nesse deus eu me recuso a crer.
Ponho um volume de Graciliano Ramos de lado e deixo minha mente se perder em pensamentos e lembranças tal qual o protagonista de Angústia. Do outro lado da parede uma música guardada num pedaço de disco ótico, rompe o silêncio. É “adoração” em conservas, por assim dizer. Não que eu esteja virando um velho rabugento, mas penso na loucura que o mundo atual é. Até mesmo a oração e a adoração espontânea, a Deus é industrializada e posta nos hipermercados, perto de pneus, pilhas, geladeiras, alimentos, roupas intimas e outras coisas mais.
Não quero ressuscitar nenhum um outro aspecto da lei mosaica, que creio eu, se não está morta, mata. Indiscutivelmente não há outro modo de se achegar a Deus, senão por meio de Cristo Jesus. Mas penso na loucura que é esse mundo. Instantes congelados. Presos no tempo. Soltos na vida. Na vida que nos escapa pelos dedos. Na vida que serve de modelo. Modelo que nunca iremos alcançar, pois não é a vida feita para se viver, mas apenas para se buscar. Vida morta.
A moça que cuida da casa põe o instante congelado para reviver, reverberar nas caixas amplificadas. Então se reproduz o passado no presente. Ela põe a música e segue a arrumar as camas desfeitas, os banheiros sujos. Retirando o pó dos móveis e limpando o chão empoeirado, segue cantarolando os versos congelados de “adoração” ao Deus-Vivo. O que foi um momento perto de Deus se torna fundo musical. Música de elevador e trilha sonora de loja de departamento. Acompanhamento para enfrentar o trânsito engarrafado.
Faço parte de uma geração onde até os relacionamentos com o Criador são formatados. Embalados para presente e vendidos como souvenir. As orações protestantes pouco a pouco se transformam nas velhas rezas católicas, mas ninguém percebe. Estão ocupados demais comemorando tantas conquistas. Elaborando novas formas de avançar e manter o rebanho entre as cercas da sutil ditadura. Então a nova vida tem gosto e cheiro de plástico. Borracha queimada.
Os religiosos, cada vez mais preocupados com a abstinência sexual e outras questões morais, não percebem que o seu deus está morto. O ouro fundido – de seus sacrifícios, de suas jóias, amuletos, desejos e medos – nada vê, nem ouve, nem sente. Isso por que dessa vez quem subiu ao monte para falar com Deus não foi outro Moises, mas sim o próprio Cristo, o filho de Deus, o sacrifício vivo, entregue em nosso lugar, para que não fossemos nós o sacrifício, mas nem assim se atentaram...
Não demora muito para a sinceridade de alguns ser transformada em obsessão, disputa por poder, imitação e modelo a ser imposto. Os religiosos congelaram o seu deus em ritos e rituais. O “Jesus” desses, agora é um estilo de vida. Um contemporâneo e salvador estilo de vida. Um símbolo capitalista. Um outro Guevara vendido na porta da Disney.
Olhando desse modo, não fica difícil entender por que tantos, como Nietzsche, Schopenhauer, Buñel..., desacreditavam no deus-carrasco, devorador de prepúcios, do cristianismo católico-protestante ocidental e agora, neopentecostal.
Diga o que quiserem, nesse deus eu me recuso a crer.
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