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sábado, maio 28, 2005

Um Contra Um e Todos Contra Todos 

Acredito que não exista setor da sociedade mais dividido que o evangélico. Somos uma grande colcha de retalhos de denominações, correntes, costumes e lideranças. Sob a mesma bandeira encontram-se mulheres que comandam programas eróticos na TV e homens que entram na piscina de calça e camisa; pessoas que acreditam que o mundo foi criado em sete dias literais e pessoas que acreditam que Deus usou a evolução das espécies; gente que defende a pena de morte e gente que cria instituições de ajuda aos presidiários; teólogos que defendem a predestinação e teólogos que defendem o livre arbítrio; cristãos que dirigem ONGs pró-vida e cristãos que defendem o direito ao aborto; pastores que afirmam que os dons do Espírito cessaram no tempo apostólico e pastores que sopram esses mesmos dons sobre as multidões. Sem contar as subcategorias que nos colocam na prateleira certa: pré-tribulacionista, amilenarista, cessacionalista, conservador, neopentecostal, arminiano etc.

Um ambiente tão fragmentado como esse desenvolveu em nós o curioso prazer de reclamar uns dos outros. Parece que junto de nossas glândulas salivares desenvolveu-se uma outra glândula que secreta garganta acima uma viscosa substância que nos instiga a falar mal de outros cristãos. Os conservadores reclamam que os liberais não tem compromisso com a Palavra, enquanto os liberais acusam os conservadores de opressão e legalismo. Os tradicionais dizem que os pentecostais beiram o candomblé em suas práticas. Os pentecostais por sua vez, dizem que os tradicionais são folhas secas insensíveis ao Espírito Santo. As denominações históricas criticam a falta de organização das igrejas jovens, enquanto estas criticam a lentidão burocrática das igrejas centenárias. Imagino Deus no meio olhando para tudo isso, tentando agradar a ambos os lados. Deve ser difícil chefiar uma família tão grande e tão desunida. Mas esta atitude corporativa é observada também, e com mais clareza, individualmente, e pude observá-la em mim. É incrível como consigo encontrar motivos para reclamar, criticar e atirar pedras em qualquer iniciativa cristã que encontro pela frente, com exceção daquelas comandadas por pessoas ou instituições que se encontram dentro do meu círculo de confiança. As denominações que não seguem exatamente minha corrente teológica são vistas como pobres coitadas que simplismente não prestam atenção naquela meia dúzia de versículos que "provam" minha teoria. Se uma denominação da qual não gosto distribuir um milhão de cestas básicas aos pobres, digo que estão tentando se promover. Mas se uma instituição na qual confio distribuir meia dúzia de cobertores eu considero um avanço incrível para o Reino de Deus. Tem algo errado aí...

O maior perigo desse irresistível hábito de reclamar está no efeito que isso causa em nossa alma. Me lembro de quando era recém-convertido e que tudo era muito novo para mim. Sempre que avistava alguém com a Bíblia debaixo do braço sentia uma grande alegria e eu saudava tal pessoa efusivamente, não importando de que denominação fosse. Quando descobria que algum colega de escola era crente, procurava me aproximar dele e o tratava como se fosse um amigo de infância. Ao encontrar um programa evangélico na TV eu simplesmente sentava e assistia. Todo domingo, um pregador subia ao púlpito e me alegrava com sua pregação, não importava sobre o que fosse, pois eu sempre saía flutuando da igreja. Todas essas atitudes são características de infância espiritual. E assim como na vida biológica, a infância pode ser a melhor fase de um ser humano. Jesus nos disse que se não formos como elas nunca entraremos no Reino dos Céus. Mas conforme o tempo passou, eu fui estudando a Bìblia e ganhando conhecimento. O apóstolo Paulo diz que o conhecimento incha e que o amor edifica. E é isso que acontece com a maioria dos cristãos. Meu primeiro sintoma de amadurecimento foi rejeitar algumas pregações sensacionalistas que só serviam para massagear o ego dos ouvintes, cujo ápice sempre era: "Deus vai te dar vitória". Depois comecei a rejeitar o que era pregado nos programas evangélicos de TV que prometiam coisas que a Bíblia não promete, como prosperidade financeira e saúde inabalável. Daí percebi que algumas denominações se sustentavam em cima dessa mensagem e as rejeitei. Então percebi que muitas pessoas na minha igreja só consideravam santa uma pessoa que se portasse, falasse, pregasse, vestisse e cantasse de uma determinada forma, uma espécie de formatação santa. Entendi que estabeler regras ou costumes para ser salvo é uma aniquilação da graça. Então rejeitei essas pessoas. Depois enxerguei como a organização institucional chamada "igreja" fugiu propósitos iniciais que Deus projetou. Os dispenseiros da graça que seriam conhecidos pelo amor se tornaram chatos moralizantes corporativistas e egocêntricos. Ao chegar nesse ponto pude sentir claramente o cansaço que se instalou em minha alma. Olhava ao redor e só via o caos.

Muitas pessoas começaram sua vida cristã com energia e vitalidade, mas hoje se encontram cansadas por olhar ao redor e não encontrar alguém em quem se espelhar. Não vou ficar aqui enumerando as diferenças entre igreja institucional(local) e igreja mística (universal), pois acredito que qualquer cristão comum já está cansado de ouvir falar sobre isso. Mas que tal cantarmos uma música diferente? E se as pessoas de fora nos olhassem e vissem um setor social unido, que apesar das diferenças e discordâncias se ama, se ajuda e se respeita? Não foi isso que nosso Cristo disse: "Vocês serão reconhecidos pelo amor com que amam uns aos outros"? E se antes de levantar a sombrancelha e franzir a testa para outro cristão eu abrisse o coração, como uma criança, e pensasse: "Tem um irmão meu ali que está se esforçando em fazer algo pelo Reino. Será que ele precisa da minha ajuda"? Eu sei que é ingenuidade achar que todos os cristãos um dia vão agir assim. Mas se você, e só você, mudasse de atitude, meu coração sentiria um grande alívio por saber que a verdadeira mensagem de Cristo foi compreendida por mais um de Seus discípulos.


sexta-feira, abril 22, 2005

Plástico 

Uma chuva fina cai lá fora. Parece uma cortina cobrindo a cidade. Separando o horizonte daquilo que se pode ver. Um lençol branco, quase transparente, agitado pelo vento. Não demora muito para o sol romper a tarde. Rasgando o fino véu. Empurrando a chuva para longe, tão longe que parece desaparecer, evaporar na força do calor.

Ponho um volume de Graciliano Ramos de lado e deixo minha mente se perder em pensamentos e lembranças tal qual o protagonista de Angústia. Do outro lado da parede uma música guardada num pedaço de disco ótico, rompe o silêncio. É “adoração” em conservas, por assim dizer. Não que eu esteja virando um velho rabugento, mas penso na loucura que o mundo atual é. Até mesmo a oração e a adoração espontânea, a Deus é industrializada e posta nos hipermercados, perto de pneus, pilhas, geladeiras, alimentos, roupas intimas e outras coisas mais.

Não quero ressuscitar nenhum um outro aspecto da lei mosaica, que creio eu, se não está morta, mata. Indiscutivelmente não há outro modo de se achegar a Deus, senão por meio de Cristo Jesus. Mas penso na loucura que é esse mundo. Instantes congelados. Presos no tempo. Soltos na vida. Na vida que nos escapa pelos dedos. Na vida que serve de modelo. Modelo que nunca iremos alcançar, pois não é a vida feita para se viver, mas apenas para se buscar. Vida morta.

A moça que cuida da casa põe o instante congelado para reviver, reverberar nas caixas amplificadas. Então se reproduz o passado no presente. Ela põe a música e segue a arrumar as camas desfeitas, os banheiros sujos. Retirando o pó dos móveis e limpando o chão empoeirado, segue cantarolando os versos congelados de “adoração” ao Deus-Vivo. O que foi um momento perto de Deus se torna fundo musical. Música de elevador e trilha sonora de loja de departamento. Acompanhamento para enfrentar o trânsito engarrafado.

Faço parte de uma geração onde até os relacionamentos com o Criador são formatados. Embalados para presente e vendidos como souvenir. As orações protestantes pouco a pouco se transformam nas velhas rezas católicas, mas ninguém percebe. Estão ocupados demais comemorando tantas conquistas. Elaborando novas formas de avançar e manter o rebanho entre as cercas da sutil ditadura. Então a nova vida tem gosto e cheiro de plástico. Borracha queimada.

Os religiosos, cada vez mais preocupados com a abstinência sexual e outras questões morais, não percebem que o seu deus está morto. O ouro fundido – de seus sacrifícios, de suas jóias, amuletos, desejos e medos – nada vê, nem ouve, nem sente. Isso por que dessa vez quem subiu ao monte para falar com Deus não foi outro Moises, mas sim o próprio Cristo, o filho de Deus, o sacrifício vivo, entregue em nosso lugar, para que não fossemos nós o sacrifício, mas nem assim se atentaram...

Não demora muito para a sinceridade de alguns ser transformada em obsessão, disputa por poder, imitação e modelo a ser imposto. Os religiosos congelaram o seu deus em ritos e rituais. O “Jesus” desses, agora é um estilo de vida. Um contemporâneo e salvador estilo de vida. Um símbolo capitalista. Um outro Guevara vendido na porta da Disney.

Olhando desse modo, não fica difícil entender por que tantos, como Nietzsche, Schopenhauer, Buñel..., desacreditavam no deus-carrasco, devorador de prepúcios, do cristianismo católico-protestante ocidental e agora, neopentecostal.

Diga o que quiserem, nesse deus eu me recuso a crer.

quarta-feira, março 16, 2005

Um Deus sem clichês 


Não que eu seja fã de novela – na verdade eu tenho certa ojeriza intelectual a esse tipo de manifestação da nossa cultura – mas como brasileiro, é praticamente inevitável não ter pelo menos uma noção do que se passa na TV em horário nobre. É costume nosso, ainda mais quando a novela está nas suas últimas semanas, comentar e apelidar os outros com os assuntos abordados, daí então é fácil ficar por dentro de tudo.

Também não precisa ser nenhum noveleiro ou crítico televisivo para perceber que todas acabam iguais. Pior do que isso somente o clichê-final para os bandidos. Como numa expiação aos pecados cometidos ao longo de mais de duzentos capítulos, o bandido sempre morre de modo trágico cenas antes do fim.

E o público aplaude. Pede isso.

Caso se faça alguma pesquisa nessa época, de fim de novela, dá para perceber o filete amargo de vingança molhando a língua da massa enfurecida. O ser humano é assim, punitivo. Acredita que no final o castigo deve visitar o malfeitor.

Graças a Deus, que com Deus as coisas são diferentes. O problema é que os seres humanos, mesmo aqueles que dizem acreditar em Deus, na sua maioria, trazem na boca esse gosto amargo, essa sede por punição. E de certo modo, caminhar de forma reta e imaculada – pelo menos assim imaginam – dá a esses, certo conforto, uma segurança, pois acreditam que Deus gosta de clichês, portanto, no final, os bonzinhos estarão a salvos contemplando a desgraça dos bandidos. “Viu só, quem mandou ser mau?”

Mas não, Deus na verdade abomina clichês – penso eu – e no final, quem se salva não sãos os personagens bonzinhos da trama. Não que Deus tenho uma certa queda pelos anti-heróis, mas heroicamente, um só morreu – a saber Jesus – dando a todos os outros, bons ou maus, a oportunidade de se salvarem no fim, ou pelo menos, um pouco antes do fim.

E os mocinhos? Bem, nesse caso, os mocinhos não são tão bons assim, pois se acham auto-suficientes, a ponto de sonharem em ver suas satisfações realizadas quando os bandidos forem pegos de jeito, recebendo em si o castigo pela culpa – como se Deus fosse um sátiro.

Mas para Deus não existe nem bons e nem maus, apenas existe aqueles que crêem e os que não crêem na Graça, no favor imerecido. E por que os mocinhos não crêem de todo na Graça? Ora, para se crer na Graça, ou seja que Deus entregou o Seu Filho Unigênito como expiação para o pecado de todos, afim de salvar todo aquele que nEle cresse, é algo solitário e até perigoso, pois é nadar contra a corrente, é se entregar, é estar sozinho, sem nada ao seu redor que lhe dê garantia alguma. Crer é viver da fé e viver da fé é viver da esperança, que tudo aquilo no que se crer, se cumprirá.

Viver da fé é de certo modo viver no abandono. No abandono, longe da auto-suficiência, longe das próprias obras, longe daquilo que se deseja ser para ter. Muitos crêem na Graça enquanto não cometerem pecado algum, como se a Graça se referisse apenas a nossa vida até o encontro com Jesus, por assim dizer. Depois de Jesus, sem pecados, caso contrário o fogo do inferno arderá na sua pele.

É assim que nascem as convenções, as doutrinas, como se a Graça precisasse de uma mãozinha. Como se o sacrifício de Jesus fosse parcial.

A verdade é que poucos entendem o que é a Graça. E por que isso acontece?

Porque o homem tem medo de se assumir como é. Porque a fé, o ato de crer, é uma queda livre; é estar na porta de uma aeronave com um pára-quedas nas costas e se lançar. Crer é correr os riscos de romper com tratados, com fórmulas, com pacotes. Crer é estar sozinho, destacado da multidão, ainda que a multidão seja de crentes. Crer é se assumir como dependente total de Deus, não no sentido apenas de suprimentos materiais, como carro, dinheiro ou imóveis, mas é ser dependente de Deus no que diz respeito à salvação, crendo que se é salvo apenas por meio de Jesus e que nada do que se faça mudará isso.

Mas muitos precisam de um talismã, um bezerro de ouro, para continuar crendo e por isso se esforçam para ser santos, contribuindo assim para a manutenção da salvação, como se pudéssemos ser fiadores da própria salvação concedida a nós por Deus através de Cristo Jesus na Cruz. Desse modo, se os templos não estão cheios domingo à noite, imaginam, alguma coisa deve estar errada. E se são acometidos de alguma doença, pensam, que Deus estar de mau humor. Usam duma fé que só funciona quando tudo vai bem.

Em Cristo Jesus não estamos mais debaixo da maldição da lei. A lei como diz Paulo em cartas aos Gálatas, nos serviu de aio, ou seja, de tutora, até que nós alcançássemos a maioridade, ou seja, estávamos debaixo da lei até Cristo Jesus, a nossa maioridade, a nossa libertação, chegar. E Ele chegou nos fazendo livres. Livres para viver e para entender que as coisas acontecem, que a chuva cai sobre justos e ímpios e Deus não é pior e nem melhor por isso, simplesmente, Ele é Deus.

O que pode se dizer então é o que o pecado não tem mais poder sobre nós para condenação, ainda que pequemos, pois Jesus rasgou todo escrito de dívida que havia contra nós, nos perdoou e nos justificou.

Então somos livres para pecar?

De modo algum, como diria Paulo. Em Cristo Jesus, toda lei se resume em, “amarás a Deus sobre todas as coisas e amarás o teu próximo como a ti mesmo”, desse modo, o Senhor cumpre Sua Palavra, inscrevendo em nossos corações a Sua lei perpetua que é o amor. E “o amor não sente inveja, não deseja o mal, não se envaidece... e ainda que meu corpo fosse entregue para ser queimado, sem amor de nada valeria.” Na Graça, o que existe é o amar ao próximo como a nós mesmos e a amar ao próximo como a nós mesmos é fazer ao outro aquilo que nós queremos que seja feito a nós – “...perdoai as nossas dívidas, assim como temos perdoado os nossos devedores”. Em Cristo Jesus, quando vier o que é perfeito, tudo irá desaparecer, exceto o amor.

Dessa forma, toda lei nos tempos da Graça é um retrocesso, um clichê há muito posto por terra, mas ainda muito usado para manipular a audiência.


quarta-feira, fevereiro 23, 2005

O Contra-Senso da Fé Racional 

Nos últimos meses passei por um doloroso processo de revisão de conceitos, que ainda não sei se terminou. Precisei me adaptar para continuar vivo como cristão. Todos que professam o cristianismo e possuem inquietantes questões filosóficas passam por esse tipo de crise, uma vez que a doutrina de Jesus não é uma religião de filosofia, mas sim de fé. Isso não significa que Jesus não tinha condições intelectuais de nos fornecer um rico debate filosófico, e de fato deixou, por um outro ponto de vista, mas ele tinha uma razão muito nobre para não fazê-lo, razão essa que fica clara pela frase: “aos pobres é anunciado o Reino de Deus”. Jesus tinha o objetivo de tornar seu ensinamento de fácil acesso para todas as castas sociais.
Desde minha conversão li autores como Josh Macdowell, Charles Colson, John Deree e outros cristãos que defendem uma “fé racional” comprovável e cientificamente evidenciável. Esta área da teologia se chama “apologética”. Embarquei nessa onda por vários anos acreditando inocentemente que possuía todas as respostas do Universo. Mas ao participar de um fórum virtual sobre evolucionismo e criacionismo, tive a sensação de bater de frente contra um muro de concreto, me deparando com argumentos firmes, respaldados e comprovados contra os argumentos científicos dos cristãos que não passavam de suposições, analogias e especulações. Depois de muito questionar como eu poderia continuar crendo no cristianismo diante disso, me lembrei do texto de Hebreus que diz: “É pela fé que sabemos que o mundo foi criado por Deus e tudo que existe não foi feito da forma como aparenta”. A Bíblia estava exigindo de mim fé, e não estava me fornecendo subsídios para isso. Aliás, eis o ponto principal: se existem evidências, não existe espaço para a fé. Ela só pode se manifestar em vácuos onde pode existir também a dúvida. Fé significa crer sem ver. Tomé não acreditava que Jesus havia ressuscitado, só creu depois de tocar em suas feridas. Jesus disse a Tomé: “Você acredita porque viu. Feliz é quem crê sem ter visto”. Não houve fé alguma da parte de Tomé, uma vez que ele estava diante do Cristo ressurreto tocando em suas feridas. Era obrigação dele acreditar. Mas para mim, dois mil anos depois, em plena era da internet, projeto Genoma, pós-modernismo e globalização, é preciso muita fé para acreditar que ele ressuscitou. Por isso minha fé tem muito mais valor para Deus.
O livro de Jó conta a história de um homem inocente que sofreu grandes desgraças. Na companhia de seus amigos, ele questiona inúmeros pontos interessantes acerca da sabedoria, soberania e justiça de Deus. São perguntas que eu me faço às vezes. São 38 capítulos consecutivos de perguntas para, finalmente, nos capítulos 39 e 40 Deus se manifestar. Se você nunca leu o livro deve estar imaginando que em frases sucintas e cheias de sabedoria Deus respondeu cada uma das perguntas de Jó. Ledo engano. Deus explode numa manifestação de poder e pergunta a Jó se ele está em condições para um debate, fazendo perguntas simples acerca da natureza que o deixam atônito. Logo Jó está com as mãos sobre a boca sem ousar pronunciar uma palavra. A lição que eu tiro dessa história é que não são questões filosóficas que vão nos levar ao conhecimento de Deus. Ele nos dá o direito de perguntar, questionar e debater, mas não vai responder todas as nossas perguntas porque deseja que tenhamos fé. Você não pediu um exame de DNA a seus pais para comprovar que é filho deles, mas simplesmente acredita no amor que eles te dão. É esse tipo de confiança que Deus quer de nós. Não é com base nas evidências, mas com base na fé.

sábado, agosto 14, 2004

A Natureza da Fé 

É comum sair nas ruas da cidade e se deparar com camisas pretas de malha com uma única palavra grafada em letras brancas garrafais. Na maioria das vezes a palavra estampada é “Fé”. O que nos leva a pensar em como nossa sociedade valoriza e exalta a fé. Outra evidência disso são os constantes discursos das estrelas de TV ao darem suas entrevistas. Elas proferem frases como: “Eu tenho muita fé. Acho que todos deveriam ter fé em alguma coisa. Não importa no que seja, mas é importante que cada um creia no seu Deus”. Soa bonito, poético, holístico e fraterno.

Mas será a fé este sentimento auto-suficiente e poderoso em si mesmo, capaz de transformar a vida das pessoas mediante ao simples esforço de crer em qualquer coisa que seja? Segundo este conceito, a fé não passaria de um pensamento ilusório que conforta as pessoas em suas vidas sem sentido. Seria isso mesmo que Jesus queria dizer com a frase “A tua fé te salvou”? Se assim fosse, Jesus estaria querendo dizer: “Agora você tem uma doce ilusão para colorir sua vida sem graça”.

A fé deve ser entendida sob dois prismas distintos. O primeiro é o da fé de uma forma geral, que não pertence a uma religião ou doutrina específica. Todo ser humano crê em verdades absolutas a respeito da vida, do Universo, da morte e de inúmeras outras questões intangíveis que não podem ser respondidas pelo método empírico. Esse conjunto de opiniões formadas ao longo do tempo fazem parte do credo pessoal que todos carregam dentro de si. Essa fé deve ser respeitada, pois representa tudo o que aquela pessoa conseguiu concluir sobre a existência humana ao longo da vida.

O segundo prisma pelo qual a fé deve ser entendida é o prisma bíblico. As Escrituras se referem a um tipo de fé que está num nível muito superior ao das demais crenças. Se trata de uma fé sobrenatural, absoluta, específica, proveniente do próprio Criador e capaz de transformar por completo o modo de alguém ver e viver a vida. Ela é tão importante que o destino eterno de todos os seres humanos é decidido com base nela: “[Disse Jesus:] quem não crer será condenado” (Mc 16:16). Afirmações como esta soam retrógradas aos nossos ouvidos pós-modernistas. Mas a Bíblia é nada menos que uma alegação de verdade transcendental e absoluta do Universo. Então, de uma forma autêntica e direta, ela estabelece o único fator conclusivo para o destino de todos nós. Enquanto muitos líderes religiosos fazem de tudo para encobrir seus ensinamentos basilares do grande público, revelando-os apenas para os já iniciados, a Bíblia deixa bem claro “como é que Deus nos aceita: É por meio da fé, do começo ao fim” (Rm 1:17 - BLH).

A fé sobrenatural também tem dois aspectos. O primeiro e mais importante é que esta convicção inabalável não é gerada através de especulação racional, mas sim através de verdades reveladas por um agente externo sobrenatural (Deus). Quando uma pessoa recebe esta revelação, resta-lhe a opção racional de rejeitá-lo ou abraçá-la. O conceito de dignidade intrínseca do indivíduo provém das Escrituras, uma vez que fomos criados à imagem e semelhança de Deus nos é reservado o poder de optar e de arcar com as consequências de cada escolha.

Por outro lado, a fé não exclui a razão humana. Muitos acreditam que se converter ao Cristianismo é cometer suicídio intelectual e abandonar suas faculdades mentais em troca das ordens de um líder estelionatário e megalomaníaco. Quando na verdade o senso crítico é um atributo indispensável para o cristão moderno e sempre foi valorizado nas Escrituras. Exemplo disso são os cristãos da cidade macedônica de Beréia que “receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (Atos 17:11). O abandono dessa simples prática tem transformado a população evangélica em massa de manobra nas mãos de líderes inescrupulosos.

O relacionamento entre fé e ciência também é algo importante a ser considerado. O cristão deve estar ciente dos avanços científicos e se possível contribuir para eles. Desde que este mundo é uma criação de Deus, Suas impressões digitais indeléveis estão por todo lugar. O ponto de conflito com o Cristianismo é que a ciência moderna está calcada de paradigmas ateístas tentando a todo custo “desmascarar” a existência de Deus. Mas os cientistas honestos que estão comprometidos com ciência e não com filosofia anti-religião estão chegando a conclusões surpreendentes a respeito de indícios de projeto inteligente na origem do Universo e do ser humano.

Esses dois aspectos da fé são aparentemente inconciliáveis e a torna um grande mistério. Como pode uma convicção que não é oriunda da razão não descartá-la por completo? Como fé e razão podem conviver em harmonia? A resposta é que a fé em Cristo não é apenas uma ilusão reconfortante, mas uma forma concreta de enxergar o mundo, entendê-lo e interagir com ele de maneira harmônica, responsável e prazerosa.

segunda-feira, maio 03, 2004

A Existência de Deus 

A Sociedade Teosófica tem como lema uma frase traduzida do sânscrito “Satyan nasti paro Dharmah”, que significa “Acima de toda religião, está a verdade”. Esta afirmação é muito interessante. Vez por outra ouvimos falar do surgimento de uma nova religião. E cada uma delas traz novas formas de ver o mundo e de responder às questões existenciais do ser humano. Mas o fato de se discutir sobre a verdade, não a altera de forma alguma. Discutir sobre o Universo não altera sua constituição física a cada novo argumento. Pelo contrário, os argumentos científicos vão sendo comprovados ou derrubados a cada nova descoberta. A verdade segue o objeto da verdade, e não ao contrário. Obviamente, isso também é verdadeiro quando estamos falando sobre Deus. Uma afirmação sobre Ele pode ser falsa se o objeto da verdade (Deus) não corresponder à dada afirmação.

A verdade absoluta sobre Deus é que Ele existe. O que pode ser comprovado por todas as coisas que estão criadas. A perfeita arquitetura do mundo nos aponta para o projeto inteligente de um criador. E não são apenas os religiosos que pensam assim, existem cientistas, como o PhD em Bioquímica Michael J. Behe, que defendem a existência de um projeto inteligente. Creio que a ciência empírica que conhecemos nunca chegará a responder a questão sobre a origem da vida. Digo isto porque seus métodos são incapazes de alcançar aquele exato momento em que a matéria que não existia, passou a existir. Ou então assumimos que a matéria é auto-existente e eterna, afirmações estas que fogem do escopo científico.

Bertrand Russel, Prêmio Nobel de Literatura em 1950, alega que essa afirmação é falsa, pois se a origem do mundo é Deus, logo Deus também precisa ter uma origem. Eu discordo, pois sendo Deus um indivíduo com o poder para criar todo um Universo como este em que vivemos, é perfeitamente plausível assumir que Ele não esteja inserido em padrões humanos de existência. Que Ele seja auto-existente, por exemplo. Nas milenares Escrituras hebraicas Deus se apresentou a Moisés pelo tetragrama YHWH, que significa “EU SOU O QUE SOU”. Ao definir-Se, Deus não encontrou nada no Universo que pudesse ser comparado a Ele mesmo, nada que possuísse Suas caracteríscas ou sequer palavras para descrever resumidamente Seus atributos. Portanto, a origem do Universo é Deus e Ele, por Sua vez não tem origem, sendo auto-existente.

O mesmo Bertrand Russel, um ateu convicto, afirmou: “A menos que se admita a existência de Deus, a questão que se refere ao propósito da vida não tem sentido”. Este é o ponto central da questão. Sem um Criador inteligente que tenha atribuído um propósito sensato para a existência, esta não passa de uma piada macabra. Tudo existe para deixar de existir. Nada é certo ou errado, bom ou mal, útil ou inútil. Tudo que hoje existe amanhã deixará de existir e o tempo que se passa vivo é uma experiência ilusória e sem importância. Se toda humanidade assumisse este pensamento, a sociedade se tornaria um caos incontrolável em questão de dias. O que levaria alguém a estudar, trabalhar, se casar, praticar esportes ou simplesmente continuar vivendo? Dar de comer ao próximo ou cortar-lhe a cabeça não faria diferença, pois a existência não teria sentido algum.

Em suma, a existência de Deus é a principal verdade a ser compreendida pelo ser humano.

sábado, abril 10, 2004

O Conceito da Verdade 

Um conceito em decadência na sociedade contemporânea é o da verdade. As instituições de ensino superior formam seus alunos com a idéia de que verdade é algo subjetivo, pessoal e intransferível, cada um tem a sua e ninguém é dono dela. Embora este ponto de vista nos ajude a ter uma sociedade mais pacífica e tolerante, pensar mais profundamente sobre o assunto nos mostra que isso é apenas um modo politicamente correto de lidar com a questão.

Se os conceitos de certo e errado não existirem, não há porque você ler este texto, porque no fim das contas ele não estará certo nem errado. Ele é simplesmente minha opinião. Da mesma forma, suas opiniões não passam de um delírio arrogante de sua mente egocêntrica. Segundo este conceito, cada um de nós é um pequeno Universo ambulante criando e destruindo verdades que não possuem nenhuma aplicação externa. No final das contas, todos nós passamos a vida inteira crendo em ilusões dos outros ou criando as nossas. A existência então fica sem sentido, já que não existe nenhum motivo real pelo qual viver.

As filosofias orientais também são responsáveis pela disseminação desta idéia, já que para eles cada ser humano é uma instância completa do Universo, cada um de nós é um deus. E para eles não importa no que você creia. Se você não acertar desta vez, terá milhões de outras chances, porque você vai ressurgir em outras formas até aprender. Quando líderes e adeptos destas filosofias dizem que todas as verdades são igualmente válidas, eles estão mentindo desapercebidamente. O que realmente acontece é que o fato de você não crer na verdade deles não lhe traz nenhum dano nesta vida, pois você terá outras. Eles estão dizendo: “Minha verdade é a absoluta. Mas se você não aceitá-la desta vez, terá outras chances”.

Quando um cristão afirma que algo é certo ou errado, automaticamente é tachado como fanático, retrógrado ou inculto. Quando um muçulmano pega um avião e o lança contra torres americanas, a mídia mundial em uníssono diz que esse é um dos males da “verdade absoluta”. Isso acontece porque o conceito introjetado na mente dos repórteres formados nas melhores universidades diz que nenhuma verdade é superior às outras. Será? Analise a seguinte frase: “A Verdade Absoluta é que Não Existe Verdade Absoluta”. Isso é uma contradição óbvia! Afirmar que não existe verdade já é uma alegação de verdade. E não há nada que faça-a superior à afirmação “Jesus é o Senhor”, ou “Buda é o maior mestre”, ou “Alá é o único Deus”. Vejam que todas elas são alegações de Verdade.

Sem o conceito da verdade não há motivos para buscá-la. Mas chegando-se à conclusão de que há algo no Universo que é o certo, e que este algo sempre esteve e sempre estará lá, surge a necessidade gritante de responder às perguntas mais importantes da vida: “Quem eu sou? De onde vim? Para onde vou?”. Surge também a necessidade de parâmetros para determinar o certo e o errado. A questão da vida é relevante demais para ser deixada de lado pela frase: “Não existe verdade absoluta”. Isso é comodismo porque foge do centro da questão. É hipocrisia porque serve como capa de tolerância. E é mediocridade porque conduz a uma vida sem razão para existir. Jesus disse: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).

sábado, março 27, 2004

Refazendo a História 

Nome: Rafael Dias
Tenho 20 anos, estou no 2º ano do Curso de Informática, moro no Rio de Janeiro e sou protestante. Palavra essa que vem precisando relembrar sua origem e significado. Os livros de história que usei no primário consideravam os primeiros protestantes como inconformados, sectários, revolucionários e arruaceiros. Mas me preocupa o que dirão os livros dos nossos filhos e netos. Talvez eles digam o mesmo que os jornais de hoje: que somos uma seita que cresce pregando riqueza fácil e sem trabalho, que fazemos teatro religioso e que vendemos o nome de Deus. Eu me orgulho do Evangelho pregado por Jesus, pois ele é o poder de Deus para salvar quem crê nele e também para revolucionar a sociedade decadente em que vivemos. Voltando às raízes de nossa própria fé vamos encontrar um tesouro muito valioso que esteve o tempo todo enterrado no nosso quintal. O objetivo desse blog se resume numa única frase: bendizer (falar coisas boas sobre) o nome de Deus.

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